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Oftalmologia para leigos

conversando com o oftalmologista…

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doença

A catarata pode se tornar irreversível?

“Olá!
Minha mãe foi fazer o mapeamento de retina para posteriormente realizar a operação de catarata, mas o médico não conseguiu fazer o mapeamento devido ao avanço da doença e devolveu o dinheiro.

O que isso significa? A catarata se tornou irreversível?”

Não sei se entendi bem. Mas são duas as possibilidades.

Ou o retinólogo não conseguiu mapear a retina devido à densidade da catarata mas, ainda assim a alternativa seria uma ultrassonografia ocular que ajudaria a avaliar se a redução da acuidade visual no caso da sua mãe se deve (além da catarata) a uma alteração retiniana importante. Alguns achados retinianos podem fazer com que a cirurgia de catarata não tenha o sucesso esperado. E, nesse caso seriam discutidas as possibilidades, prós e contras do procedimento, com o paciente e seus familiares.

Ou a segunda possibilidade é ele não ter conseguido realizar o exame por conta de um descolamento de retina total ou hemorragia vítrea importante impedindo a visualização da retina. Você mencionou “o avanço da doença” mas talvez esse termo tenha sido usado por conta de possiveis alterações vítreo-retinianas presentes (em presença de doença diabética ou hipertensiva descompensadas, por exemplo) e não propriamente por causa da catarata.

Com o avanço tecnológico (equipamentos e técnicas cirúrgicas) de hoje em dia, a “cegueira” devido à catarata é totalmente reversível, caso o único problema seja a própria opacidade cristaliniana.

Na catarata mais densa, apesar da maior dificuldade e maior tempo cirúrgico, devidos à dureza maior do núcleo do cristalino e da necessidade de uma incisão de maior tamanho e talvez alguns “pontos”… o prognostico pós-operatório pode ser muito bom!.

Claro que o tempo encurtado de cirurgia (numa catarata menos densa) se traduz em menor reação inflamatória no pós-operatório imediato (e tardio). Mas os anti-inflamatórios hormonais (corticoides) são utilizados em todas as cirurgias com a finalidade de minimizar a resposta do organismo à “agressão” cirúrgica. O tempo que levará para a retirada desse medicamento é que pode ser diferente, caso a caso, e vai depender do grau de dificuldade intra-operatória (maior nas cataratas mais densas, por exemplo).

A recuperação funcional de um paciente com deficiência visual importante após ser submetido à facectomia (cirurgia de catarata) é uma das vivências mais gratificantes para um oftalmologista! Converse com o médico da sua mãe, fale de sua apreensão e tenho certeza de que se entenderão.

Mais do que isso, você estará mais confiante e poderá ajudá-la a ter uma qualidade de vida bem melhor nos próximos anos!

Abs,

Visão embaçada e exame oftalmológico “normal”. O que fazer?

“Há um mês eu tive uma perda de visão repentina; meu olho ficou meio que descontrolado, não conseguia focar a visão. Ela voltou ao normal, porém desde então tem ficado embaçada e ruim. Eu fui ao oftalmologista e ele disse que está tudo certo.

Mas estou preocupado!

Já uso óculos e o mesmo está em dia!”

Comentário:

Se o oftalmologista não encontrou evidencia de qualquer alteração ocular (ao exame), sugiro que durante um intervalo de tempo avalie sua sintomatologia (dados novos, mais precisão na queixa visual,relação da dificuldade visual com a hora do dia e/ou atividade executada, p.ex.) e retorne à consulta.

Muitas vezes a queixa imprecisa (dado subjetivo) não indica ao medico a possível origem do problema. Não significa que ele não exista, apenas ainda não se tornou visível ao exame. Por exemplo, uma opacidade cristaliniana muito incipiente que gera alteração no contraste e com isso o paciente se queixa de que não está vendo como antes… tem algo errado…mas o medico não visualiza a alteração antes dela se tornar um pouco mais densa. Ainda assim ela pode não alterar a quantidade de visão (acuidade visual que se mede no consultório), mas é responsável pela queixa de piora na qualidade visual.

Porem, como você disse que “perdeu a visão de repente”, isso pode significar alteração súbita na acomodação (uso de algum fármaco ou apenas estresse importante e pontual), enxaqueca ou migranea retiniana, alteração nervo óptico (quando ela é posterior em sua localização ,o médico não vê nenhuma alteração no fundo do olho) ou mesmo uma isquemia transitória (AIT).

Como você diz que a visão “voltou ao normal” mas “tem ficado embaçada”, talvez a alteração acomodativa deva ser melhor investigada (se você está fazendo vestibular, mestrado ,doutorado ou estudando para algum concurso, essa disfunção acomodativa não é incomum).

Como você viu, são várias as possibilidades e o tempo e a mudança na característica dos sintomas pode ser vital para um diagnóstico preciso. Mas o lado bom é que não deve ser nada que exija intervenção precoce,uma vez que o exame oftalmológico não se mostrou alterado na primeira visita após o ocorrido. As mudanças orgânicas são dinâmicas; o médico precisa de vários momentos diferentes da doença para ser mais assertivo. A Medicina depende de sintomas e sinais para que os diagnósticos sejam feitos.

Imagine uma criança com febre 38ºC há menos de 24 horas e mal estar geral. A doença pode ser uma meningite, sarampo ou qualquer outra virose comum da infância. Uma historia de possível contágio, outros membros da família doentes pode ajudar. Mas somente o acompanhamento da criança pode levar ao diagnostico de certeza! Os novos sintomas que surgirão darão a “pista” e o que se pode fazer no momento é aguardar esses sintomas, observar de perto a criança e controlar a febre. O tratamento precoce “às cegas” muitas vezes modifica negativamente o desfecho da doença.

É fato também que às vezes o medico não tem esse tempo! Se o paciente está muito mal, descompensado corre perigo de vida, é obvio que será medicado (por suposição ou definição de causa mais provável) e depois, mais à frente, as correções diagnosticas e terapêuticas serão feitas.

Entendeu?

Minha sugestão é que volte ao oftalmologista com as queixas atuais e converse com ele sobre a sua preocupação. Ninguem melhor do que ele para rever o seu quadro e avaliar as possibilidades diagnosticas.Ele fez o primeiro exame e saberá encontrar modificações do aspecto inicial em relação ao quadro clínico atual.Além disso o reexame dará a você mais confiança, alem de permitir uma decisão terapêutica acertada caso se verifique alguma modificação dos achados oftalmológicos anteriores.

Toda (e qualquer) queixa deve ser investigada,sempre!

Melhor pecar pelo excesso do que pela falta, não é o que diz o ditado?

Abs,

duvidasemoftalmologia@gmail.com

Outro comentário sobre neve visual ou “visual snow”

“Li o artigo sobre visual snow… Estou com os sintomas há umas tres semanas; iniciaram após uma crise de cefaléia com aura e não sumiram, apesar de conseguir a priori ignorar os efeitos, quando preciso ler um livro ou usar o computador a tarefa fica bem árdua… Há algo que possa fazer para que consiga essa “habituação” de que o artigo trata? Ainda, há alguma medicação que possa ser eficaz?
Fui ao oftalmologista, fiz mapeamento de retina e segundo ele não há qualquer alteração no olho, salvo a miopia que tenho há muitos anos…
Quero ir ao médico, neuro ou algo assim, mas confesso que não sei nem por onde começar a procurar um que trate essa condição, até porque há pouquíssima literatura sobre o tema. Existe tem algum ‘exercício’ que eu mesma possa fazer para buscar essa “habituação visual”?
O visual snow apresenta algum risco ou complicação além da sensação visual distorcida?
Há algum fator que possa agravar a condição?”

Como você já leu, a fisiopatologia da “neve visual” (visual snow) ainda não foi estabelecida. Em termos leigos, porém, podemos afirmar que os portadores dessa “sensação visual” são indivíduos cujos cérebros apresentam hiper-reatividade do cortex cerebral.

A percepção visual normalmente é seletiva (envolve omissão de imagens menos importantes) e a alteração dessa seletividade da percepção parece estar implicada no processo de surgimento da neve visual. Como em várias disfunções bioquímicas do cérebro, esta pode ser mais uma delas. E não há nenhum “medicamento” especifico para esse sintoma. Digo isso por que as disfunções que costumam estar presentes em indivíduos portadores de neve visual (migranea, o TDAH, a TAG -ansiedade generalizada), apesar de serem tratadas com medicamentos (também, alem de outras intervenções), ainda não são “curáveis” e nem todos respondem a uma única droga.

Seria uma variação da percepção visual normal, assim como o poder de observação acurado, o estar ligado no seu entorno nos 360º “full time” e a hiper-reatividade emocional são variantes da personalidade. E quem não sabe que sofre mais o individuo tido como mais sensível? Creio que a ciência tem mostrado que todas as nossas características individuais são mediadas pelos genes e se manifestam através de alterações bioquímicas de cada individualidade. O que a epigenética tem dito é que somos capazes de não expressar esses genes em condições especiais que dependeriam do meio ambiente (externo e interno). Isso explicaria o porquê de apenas em determinados momentos da vida surgirem os sintomas das afecções que seguramente herdamos ( por que conhecemos outros familiares com as mesmas queixas). Não apenas isso, mas explica por que alguns de nós, mesmo tendo herdado determinadas características ou doenças não as expressamos (como se diz em genética médica).

Mas não devemos esquecer que é imprescindível que exames complementares sejam realizados para excluir causas orgânicas secundárias, como efeitos colaterais de alguns medicamentos, uso de drogas ilícitas, ou ainda neoplasia encefálica, doença desmielinizante e outras patologias neurológicas. Em outras palavras, um neurologista deve ser consultado!

Uma definição de habituação psicofisiológica é o desaparecimento da resposta à estimulação habitual.
Partindo desse princípio, a habituação seria um fenômeno fisiológico que poderia minimizar o desconforto do portador de neve visual através da exposição repetitiva aos estímulos sensoriais que se deseja “anular”. Podemos inferir então que essa disfuncionalidade do processamento visual, pelo menos em teoria pode responder à habituação, assim como o zumbido pode se tornar bem menos incomodo com esse tipo de proposta de reabilitação sensorial.

Mas, infelizmente, ainda desconheço qualquer proposta de grupos ligados à readaptação sensório motora, sejam fisioterapeutas, ortoptistas e/ou oftalmologistas direcionada à readaptação visual de pacientes portadores do sintoma ”visual snow”.

Não conheço nenhum risco maior ou complicação devida ao sintoma neve visual, exceto a necessidade de afastar qualquer possibilidade de patologia encefálica que possa ser responsabilizada pelo inicio dos sintomas (apesar de incomum).

Então, o que se pode (e deve) fazer é excluir causas orgânicas de “percepção visual incomum”. Um neurologista deve ser procurado para fazer esse “screening”. Você também pergunta se existe algum ‘exercício’ possa fazer para buscar essa “habituação visual”. Se a sensação de neve visual é intermitente,eu sugeriria que observasse que situações do dia a dia precipitam esse sintoma e tentar evitá-las ou contorná-las: você cita o incomodo à leitura (papel e tela do computador); então porque não tenta usar um óculos que altera a forma habitual de percepção visual,como por exemplo os óculos conhecidos como “casa de abelha” ou “ropidol”?

Quando eu estava muito incomodada com um floatter fixo em meu campo visual após uma rotura retiniana tratada, passei muitos dias (40-60) usando meus oculos de leitura “pintados”. Explico melhor: pintei as lentes dos óculos com uma trama reticulada que evitava a percepção da “mancha” isolada,uma vez que toda a superfície estava coberta de “manchas”! Consegui bastante alivio com esse recurso: consegui até voltar a me interessar pela leitura que havia deixado de lado nos dias seguintes ao episodio vítreo-retiniano.

Foi lento o processo, a “mancha” ainda está aqui,mas na maioria das vezes (quase sempre) eu não a percebo. Ela não me incomoda a não ser quando estou mais vulnerável: quanto mais estresse, mais adrenalina, mais intensa a reação de luta ou fuga do organismo, ou seja, mais atentos ao nosso redor estamos! E é ai que aparecem novamente os nossos “passageiros indesejáveis”, aquelas sensações desagradáveis que nos acompanham sempre, exatamente por termos uma habilidade maior de percepção do entorno, além da incapacidade de “deletar” as informações secundárias, aquelas que são menos importantes na avaliação do todo, seja esse todo uma tela de TV, um pedaço de papel ou a nossa própria vida!

E não se esqueça, a troca de informações (leigos e não leigos) é importante para trazer luz a determinados tópicos pouco conhecidos. Juntos podemos entender melhor o sintoma neve visual, possíveis mecanismos de “gatilho” , como e por que surgem essas percepções e,principalmente, como melhor lidar com elas e mitigar o sofrimento que efetivamente causam em seus portadores!

duvidasemoftalmologia@gmail.com

Após tratamento da retina com o laser comecei a ver “flashes”…pode acontecer isso?

“Olá, tudo bem?
Fiz a poucos dias um tratamento a laser para prevenção de rotura retiniana. O medico falou que eu estava com uma área frágil e por isso precisou “selar” com laser, mas logo no terceiro dia (após o procedimento) comecei a sentir flashes no olho! Com piscadas muito rápidas -parece uma lâmpada fluorescente quando está para queimar. Voltei ao meu médico e ele falou que o laser demora em torno de 15 dias para cicatrizar 100% e neste período era normal eu sentir estes flashes. Ele tornou a examinar o meu olho (microscópio) e falou que estava tudo bem com a minha retina. Antes do laser eu não via estes flashes repetitivos, agora é o dia todos esses flashes! A minha visão é normal ( 100%)em ambos os olhos”.

Entendo que você esteja desconfortável e inseguro em relação aos “novos” sintomas. Relacionar (negativamente) sintomas novos a procedimentos oftalmológicos (ou qualquer outra forma de intervenção médica) é normal! E não está inteiramente errado!

Muitas vezes, ou melhor, quase sempre o médico se depara com situações em que ele sabe que se não intervir, a possibilidade de desfecho negativo é grande. Mas sabe também que a sua intervenção na evolução natural da doença pode levar a situações pouco confortáveis. Como o surgimento de novos (e diferentes) sintomas ou mesmo ao questionamento por parte do paciente a respeito do procedimento realizado. Era mesmo necessário? O que faço agora para minimizar esse novo desconforto? Não teria sido melhor ter deixado o processo evoluir, monitorizando de perto essa evolução e intervindo apenas quando fosse inevitável, como por exemplo evidencia de rotura e/ou aumento do tamanho dela ou ainda evolução para descolamento?

Para aumentar nossa assertividade, nós médicos não decidimos sozinhos o que fazer. Nós nos baseamos,de maneira geral,em algumas normas ditadaqs pelos conselhos das especialidades. Embora cada caso deva ser analisado pontualmente pelo medico (e as decisões tomadas em conjunto com o paciente que deve ser bem esclarecido a respeito da intervenção, seus benefícios e possiveis intercorrencias), nos baseamos nos “guidelines” (normas) existentes em relação às mais diversas patologias mais comuns em nosso meio. Quando são doenças mais raras, nos reportamos aos artigos publicados por outros médicos que já tiveram oportunidade de lidar com esta ou aquela outra doença incomum. A experiência deles nos ajuda a definir a melhor proposta para nosso paciente.

Essas normas às quais me referi anteriormente (guidelines) são ditadas por vários estudos realizados em diferentes centros (hospitais) , estudos esses com o mesmo “desenho”,ou seja,mesmo tipo de avaliação e objetivo, para que possam ser comparados.As conclusões desses estudos são analisadas e a conclusão é resumida através de itens a serem observados em cada paciente e melhor conduta frente a cada caso semelhante aos que foram alvo do estudo.Esse consenso é formulado por especialistas nessas patologias.

Então, em resposta à sua dúvida,os consensos em relação à patologias retinianas exibem propostas de intervenção diferentes, dependendo da estratificação de risco da degeneração / lesão retiniana observada.

Algumas degenerações exigem (segundos esses estudos) intervenção imediata, uma vez que estão relacionadas a um maior risco de descolamento de retina do que outras. Nesses casos, mesmo na ausência de visualização de rotura é mandatória a laserterapia com a intenção de impedir o desfecho negativo mais temido que seria o descolamento de retina. Enquanto que a aplicação de laser é procedimento de alguns minutos, a cirurgia do DR é muito mais demorada e interfere muito mais com a higidez do olho do que o laser. Em outras palavras, as complicações possíveis relacionadas à cirurgia são muito mais graves do que as observáveis com o procedimento preventivo (laser).Mas reconheço que a decisão é difícil e quando surgem sintomas novos após o procedimento o questionamento possa existir!

Em relação aos seus sintomas:

O laser é o estimulo que vai fazer com que o organismo responda com atividade inflamatória, que no final das contas leva à atividade cicatricial, “selando” aquela área! Essa resposta do olho à “agressão” (laser) é necessária à aceleração do processo de bloqueio da lesão,embora possa às vezes levar a modificações estruturais do corpo vítreo e alterar sua relação com a retina adjacente (e/ou subjacente). Essa modificação da interface vítreo-retiniana pode durante algum tempo ser responsável por “flashes” que acontecem toda vez que há movimento ocular, por conta de possível “tração” da retina naquele ponto. Seria, tipo um “beliscão”, que ao estimular a retina se traduz na visão de luz ou flashes de luz ou ainda raios luminosos.

A (des)organização do vítreo sofre alterações contínuas…isso significa dizer que deverá desaparecer essa sensação desagradável (e que assusta a gente,não é mesmo?). Mas o processo deve ser monitorizado. Por este motivo o retinólogo solicita o mapeamento de retina de controle (em media até 30 dias após o procedimento a laser).A avaliação da retina pode ser feita tanto com o oftalmoscópio indireto quanto através de uma lente especial usada em conjunto com o biomicroscópio.

Espero ter ajudado a esclarecer suas dúvidas!

duvidasemoftalmologia@gmail.com

Cirurgia refrativa, visão 20/20 e baixa qualidade visual

“Fui submetido a ceratotomia radial cerca de 20 anos atrás. O resultado imediato foi excelente,e hoje em dia posso dizer que durante o dia tenho uma visão perfeita. Durante a noite ou em ambientes pouco iluminados, vejo alguns halos ou fantasmas em volta de luzes. Não chega a ser algo que me impeça de dirigir a noite, ou ir ao cinema, porém as vezes incomoda.

Consultei vários médicos e não consegui ainda obter uma resposta se existe ou não correção pra este problema.Alguns dizem não ter nada a fazer, enquanto outros dizem já ter corrigido vários outros com o mesmo problema que eu.

Existe algo que funcione no meu caso?

Lentes esclerais podem resolver? O Wavefront funciona nestes casos?”

Em condições em que a pupila está mais dilatada (à noite e em locais pouco iluminados), as aberrações corneanas causam sintomas desagradáveis. Após a cirurgia refrativa, mesmo bem sucedida quantitativamente, isto é, com acuidade visual final 20/20 (100%),a qualidade visual baixa pode ser resultado da percepção de halos ao redor de luzes ou imagens fantasmas devido às aberrações de alta ordem consequentes ou hiperdimensionadas pela cirurgia.

O wavefront avalia as imperfeições individuais da córnea (aberrações de baixa, média e alta ordens). Em outras palavras o wavefront faz aberrometria. Deve-se então quantificar e qualificar (caracterizar)adequadamente essas aberrações antes de pensar em fazer nova cirurgia refrativa, numa abordagem mais individualizada.

No caso da ceratotomia radial, se o diâmetro da pupila é maior que a média em condições de iluminação ambiente, no escuro ela aumenta e as cicatrizes radiais da cirurgia modificam a qualidade de visão de imagens iluminadas (halos e fantasmas).

Então, como você viu, não apenas o tipo de cirurgia refrativa,o grau a ser corrigido, mas o diâmetro da pupila e as alterações topográficas corneanas são variáveis a se levar em conta na correção cirúrgica das ametropias (aberrações de baixa ordem).

Não existe proposta terapeutica ideal: desde alterações artificiais do diametro pupilar na ceratotomia radial(medicamentos),o uso de filtro amarelo (que aumentam a sensibilidade ao contraste à noite)nas cirurgias a laser, as lentes de contato pós-cirurgia (em ambas situações)ou mesmo as lentes com diametro pupilar fixo (cosmeticas) no caso das ceratotomias. Varia caso a caso.

Há necessidade de avaliação topografica de excelente qualidade,indicando com precisão as aberrações presentes, alem de avaliação da superficie ocular e do filme lacrimal. Aí então se decide por tentar intervir cirurgicamente ou por proposta menos invasiva para tentar solucionar a queixa do individuo.

Converse novamente com o medico oftalmologista, exponha as suas dúvidas e tenho certeza de que vocês decidirão a forma de intervir mais acertada para melhorar a qualidade da sua visão!

Espero ter ajudado!

Prevenção em Oftalmologia…como se faz?

Uma internauta perguntou:
“Tenho um trabalho sobre medicina preventiva ocular. O que eu posso falar sobre esse assunto?”

É um prazer poder ajudá-la!

Prevenção em oftalmologia?

Falar sobre prevenção em oftalmologia é, em primeiro lugar, falar da garantia de boa qualidade visual futura, através da avaliação precoce da visão na infância, visando à prevenção da ambliopia (que é o não desenvolvimento -evitável- da acuidade visual potencial num dos olhos em decorrência de estrabismo ou outra patologia oftalmológica que não tenha sido diagnosticada antes dos seis anos de idade.

Falar da prevenção dos traumas oculares, causa importante e bem conhecida de cegueira evitável no mundo! Acidentes de trabalho, acidentes de transito e acidentes domésticos.

Falar de como a hipertensão arterial, a obesidade, a síndrome metabólica (através do aumento da resistência à insulina) e o diabetes podem interferir negativamente na qualidade visual em longo prazo.

Enfim,

Falar da prevenção das doenças crônicas degenerativas oculares como o glaucoma, algumas uveítes e a DMRI (degeneração macular relacionada à idade), que podem ter início antes da idade adulta e apresentar desfechos negativos mais precoces ou na senilidade, reduzindo a qualidade de vida dos indivíduos.

Estratégias: exames oftalmológicos de rotina, orientação a respeito de normas de segurança no trabalho e cuidados para prevenção de acidentes domésticos. Mas, principalmente em relação às doenças crônicas degenerativas, é imprescindível a conscientização da necessidade de manter estilo de vida mais saudável.

E essa conscientização deve ser feita através da construção, desde cedo, do conhecimento a respeito das doenças oculares e sua prevenção!

Alguns links:

http://www.careplus.com.br/edicao/edicao_12/prevencao.htm

http://elizabethnavarrete.com/2012/08/19/olho-e-sindrome-metabolica-prevenindo-a-deficiencia-visual-futura/
http://elizabethnavarrete.com/2010/02/25/cegueira-a-dmri-como-principal-causanos-paises-desenvolvidos/

http://elizabethnavarrete.com/2010/08/11/oftalmologiasenilidade-e-qualidade-de-vida-futura/

http://elizabethnavarrete.com/2011/08/16/voce-sabe-o-que-e-ambliopia-e-a-importancia-do-diagnostico-precoce/

http://elizabethnavarrete.com/2011/09/28/a-visao-na-catarata-na-dmri-e-no-glaucoma/

http://elizabethnavarrete.com/2011/05/10/prevencao-no-glaucoma-e-possivel/

http://elizabethnavarrete.com/2011/05/03/olho-doenca-vascular-e-inflamacao-cronica/

Monovisão com lentes intra-oculares: não deu certo…e agora?

“Aos 25 anos, fiz a cirurgia para correção de miopia com cortes (antes do laser). Fiquei 20 anos com visão perfeita. Aos 45 iniciou o processo de vista cansada e um pouco de miopia. Passei a usar óculos multifocais. Agora, aos 53 anos foi detectado catarata. Então optei por lentes intraoculares (com a retirada do cristalino) no processo monovisão. Como tenho um pouco de astigmatismo, não ficou perfeita a cirurgia. Acontece que pela manhã ou enquanto estou na luz natural, a minha visão para longe e para perto ficam boas, mas quando chega a noite e quando tenho que trabalhar em ambiente fechado no computador, minha visão fica horrível. Pedi então para o médico me passar lentes multifocais para uso a noite ou diante do computador. O resultado é que quando olho para um objeto quadrado ou retangular, o lado esquerdo aparece maior que o lado direito. Não fica linear.
Qual seria a maneira de corrigir este problema? Se eu fizer correção a laser do astigmatismo, pode melhorar? A cirurgia que fiz com lentes intraoculares, tem como ser desfeita?”

Apesar de não ter todos os dados que gostaria para opinar de forma mais assertiva, vou raciocinar com o que você relatou.

Você fez cirurgia de catarata (!?) e optou pela técnica da monovisão (lentes intraoculares para longe num dos olhos e perto no outro) para correção refracional.

O uso da monovisão requer aprendizado neuronal (neuro-adaptação). O ideal é fazer testes com lentes de contato antes de um procedimento definitivo como o implante de LIO (lente intra-ocular). A dificuldade que você relata provavelmente se deve à monovisão,sim. Com luz natural, a qualidade da visão é melhor. Assim como quando a catarata ainda não necessita cirurgia (significa apenas o envelhecimento do cristalino) e a visão é melhor com luz natural do que em ambientes fechados (a não ser com luz direcionada ao objeto que se vê, como na leitura, p.ex.).

Quando usamos a monovisão e em determinadas tarefas temos mais dificuldade (dependendo da iluminação ou da maior exigência visual) o que se faz é usar lentes de visão simples (não multifocais) para correção da ametropia de cada olho para aquela determinada distancia.
Por exemplo:

Quando dirigimos à noite, em uso de lentes de contato (ou LIO, no seu caso) adaptadas em monovisão, surgirá a necessidade de utilizar óculos com lentes para permitir a visão binocular (e com isso, mais qualidade visual). No olho que está usando correção para longe não colocamos grau na lente dos óculos (ou complementamos o grau que falta, p.ex. um pequeno astigmatismo não corrigido pelas lentes de contato (ou LIO, no seu caso).No olho em uso de correção para perto, a lente dos óculos deve compensar essa correção, readaptando o olho para a visão de longe. Com isso, a visão de longe ficará (do ponto de vista de “grau”), totalmente corrigida em ambos os olhos.O resultado é uma visão bem superior,com algumas qualidades pertinentes à binocularidade (e que a monovisão não permite).

O mesmo acontece para o trabalho no computador. A diferença entre os óculos multifocais e os óculos de visão simples para a correção da descompensação relativa à monovisão é que a tecnologia multifocal, por si só já cria dificuldade de fusão de imagens. Na construção das lentes multifocais são criados prismas ou efeitos prismáticos, alem de aberrações óticas, que podem atrapalhar mais ainda a fusão das imagens e reduzir o conforto da visão de perto ou ainda intermediária (computador). Os óculos multifocais ajudam bastante, mas têm indicações pontuais. Não implicam em qualidade em toda e qualquer circunstancia de uso da visão.

A referência a tamanhos diferentes de imagens (aniseiconia) se deve à diferença de graus entre os dois olhos. Antes o cérebro não precisava lidar com essa dificuldade. Além disso, ela fica superdimensionada pelos multifocais. Talvez óculos apenas para usar no computador possam ser mais adequados à sua necessidade atual. Ou os óculos multifocais foram inadequadamente montados criando aberrações que podem corrigidas. Nesse caso você deve conversar com seu oftalmologista, que deverá encaminhá-lo à consultoria do fabricante das lentes multifocais que você está usando, para que seja reavaliada a montagem, na tentativa de melhorar seu conforto.

Quanto a uma nova cirurgia, as queixas referidas não me parecem se dever ao astigmatismo e, portanto não seria a primeira opção para resolver o problema. A não ser que seja um astigmatismo importante.Mas, não conheço os detalhes. E quanto à sua pergunta a respeito das LIOs implantadas, sim é possível explantar a LIO de perto e fazer implante secundário neste olho de uma lente visão simples para longe. A possibilidade existe, mas não deve ser sua primeira opção. Não acredito que um cirurgião de segmento anterior sugira o procedimento sem antes tentar resolver suas queixas clinicamente.

Não existe intervenção cirúrgica sem risco. E você já se submeteu a várias. Pense a respeito. Alem disso, após a facectomia a monitorização vitreo-retiniana é interessante pelas intercorrencias possíveis em relação ao polo posterior do olho, no longo prazo. A reoperação aumenta o risco de incidência de complicação futura.

Converse com o seu médico. E se o oftalmologista que sempre o acompanhou, não for o médico que o operou, volte a ele com as queixas atuais. Ele poderá ajudá-lo! A percepção do clinico é um pouco diferente em relação à do cirurgião. A experiência é baseada na vivencia diária, que nesse caso não é a mesma. O clinico completa o cirurgião e vice-versa.

Descolamento de retina…dúvidas

“Fiz uma cirurgia de DR e até o ocorrido não conhecia este problema. De repente a sensação era como se tivesse um véu cobrindo a visão e fiquei praticamente sete dias sem enxergar parcialmente do olho direito. Foi então que um oftalmologista fez o diagnostico de DR, e pediu para eu procurar um cirurgião o mais rápido possível , se não perderia a visão.Acabei fazendo a cirurgia com gás. Tenho 40 anos e nunca tive nenhum sintoma. Não tenho nenhum caso na família de DR, não tenho pressão alta, diabetes, não tomo nenhum medicamento e também não sofri nenhum acidente. Como pode ter ocorrido este problema? Nenhum oftalmologista pediu que eu fizesse mapeamento de retina, antes de acontecer o DR. Agora estou em fase de recuperação mas a visão está turva. Tenho medo de não voltar a ver como antes. Sou míope de 3 dioptrias. Vou poder usar lentes de contato novamente?”

O descolamento de retina não acontece apenas em altos míopes ou indivíduos com historia familiar (DR). Qualquer um de nós pode vir a ter uma sequencia de eventos que leve ao DR. Além das degenerações de risco para DR (que podemos ter e não saber, por não serem sintomáticas), qualquer fator, inflamatório ou infeccioso,local ou sistêmico, além do trauma por si só pode desestabilizar a relação vitreo-retiniana, levar à tração e rotura. A partir dai surgem os sintomas e, se não são percebidos de imediato, a turvação visual pode ser o único fator que leve o individuo ao oftalmologista.

Neste momento, provavelmente a terapia com laser já não é viável e a cirurgia é mandatória. O tempo que a retina ficou descolada do seu leito, alem da localização do DR são fatores preditivos da visão final do paciente. Se a lesão é mais periférica e/ou o tempo de descolamento é mais curto, a probabilidade de restauração funcional boa (alem da recuperação anatômica, claro) é maior!

A avaliação da retina periférica (para estratificação de risco de cada individuo em relação ao DR) deve ser feita pelo menos a primeira vez após os 35-40 anos, caso não exista historia familiar de DR. Em altos míopes esta avaliação deve ser bem mais precoce!

Quanto às lentes de contato, não há contra-indicação formal para o seu uso. Apenas lembrar que se a retina for muito friável, se existirem degenerações de risco que devam ser acompanhadas de perto, o menor trauma deve ser evitado. Não coçar os olhos e evitar situações de risco como prática de esportes com bola e outros.

Isso no olho não operado (que deverá ser avaliado quanto a presença de degenerações de risco para DR). O olho operado (DR) pode ter tido alguns parâmetros anatômicos e fisiológicos (pálpebra e superfície ocular) alterados (por conta da cirurgia) e em consequencia,o conforto da LC pode não ser mais o mesmo.

Caso isso ocorra o uso das lentes deve ser limitado a situações especiais.

Leia mais a respeito de prevenção do descolamento de retina em http://www.elizabethnavarrete.com

Estrabismo…algumas dúvidas

“Gostaria de saber se o uso de lentes de contato “corrige” o estrabismo da mesma forma que os óculos”.

Não. Os óculos, em virtude da distancia da lente corretora até a córnea (em torno de 12mm), distancia essa chamada de distancia vértice, induz um efeito prismático que pode beneficiar ou piorar, funcional e esteticamente o individuo estrábico.Se o estrabismo for convergente, as lentes positivas dos óculos ajudam a minimizar o desvio dos olhos. Se o estrabismo for divergente e o individuo for míope,também, melhora o aspecto estético. Embora isso só ajude nos estrabismos de angulo pequeno.
As lentes de contato, como estão sobre a superfície corneana, não induzem efeito prismático a favor. É por isso que alguns hipermetropes estrábicos se sentem melhor com os óculos do que com as lentes de contato. Eles ajudam a “corrigir” ou “camuflar” o desvio ocular.

“Meu namorado tem estrabismo no olho esquerdo, que, segundo a mãe dele, foi causado devido a uma queda dela durante a gravidez. Isso pode mesmo ocorrer? Ninguém na família é portador do problema. É possível corrigir o estrabismo depois de muitos anos o olho estando assim?”

Uma queda na gravidez pode precipitar o parto. E o estrabismo em crianças prematuras não é incomum, uma vez que o sistema visual ainda estava em desenvolvimento.

Quanto a corrigir o estrabismo depois de adulto, o risco/beneficio deve ser avaliado. Se o olho (desviado) não tiver uma ambliopia (perda funcional com visão reduzida), que depende da quantidade do desvio – pequeno ou grande, medido em dioptrias prismáticas, no pós operatório da cirurgia de estrabismo, um dos riscos é o surgimento de diplopia (visão dupla). Mas cada caso é um caso! O paciente deve ser examinado por um estrabólogo (oftalmologista especializado em estrabismo) para avaliar os benefícios de um tratamento cirúrgico.

Interessado em estrabismo? Leia mais a respeito:

Um site médico sobre estrabismo: http://www.estrabsimo.med.br

Um site leigo com curiosidades sobre estrabismo: http://www.oestrabismo.com

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