“Vejo moscas volantes desde criança. Ficaram mais escuras após meus 20 anos, e só então percebi que poderia ser um problema. Mesmo assim, vivi até hoje, aos 52, com as ditas mosquinhas, sem problemas. A três meses, comecei a ver clarões na parte inferior do meu olho direito. Fui a dois oftalmologistas que ao olhar o fundo do olho não constataram nada, mas no ultrassom uma linha era bem clara. Como tenho visão quase perfeita, apenas 0,5 grau de miopia no olho direito, ambos pediram que eu consultasse um especialista em retina. Fui à consulta hoje, e ele me disse que tenho descolamento de retina nos dois olhos, de um tipo mais incomum.
Disse que é do tipo que esgarça a retina entre as 10 camadas da mesma.
Ele me recomendou laser em ambos os olhos o mais rápido possível, para a próxima segunda ou terça feira.

Minha dúvida é:

Eu enxergo muito bem, não uso óculos para nada. Corro algum tipo de risco com esse procedimento? Ele é mesmo necessário?”

Na verdade as moscas volantes apenas indicam que o corpo vitreo teve sua estrutura fisica (e dinamica em relação à retina) modificada.A importancia da monitorização da interface vitreo-retiniana reside na possibilidade de descolamento de retina, com ou sem rotura.
Pelo que você descreve parece se tratar de retinosquise (ou retinosquisis). A partir do momento em que você passa a ver clarões (flashes) e existe tração vitreo-retiniana a equação se resume ao cálculo do risco – beneficio da estratégia terapêutica (laser).
Caso a distrofia retiniana (retinosquise) se apresente apenas na região inferior a conduta expectante (com monitorização rígida e constante) pode ser uma opção. Em se tratando de retinosquise superior o laser deve ser considerado.

Os efeitos colaterais dependem da extensão do tratamento e quantas vezes ao longo dos anos deverá refazer a laserterapia.Como nos versos de uma musica conhecida, “nada será como antes…amanhã”.
Lidamos com isso o tempo todo em Medicina.Procedimentos não são isentos de risco (imediatos ou tardios).Mas penso que quando é necessário um procedimento, pelo imediatismo de uma conseqüência maior ou de mais difícil tratamento, não se deve pensar no que se perde realizando a intervenção. Ela é necessária e pronto.

Se há consenso (oftalmologista e retinologos indicados para avaliá-la) na indicação de laserterapia,então…como lidar com (e resolver) o que pode acontecer (ou não) depois… é questão para amanhã. Hoje é resolver o mais urgente!

Adendo:

Provavelmente em relação a este post, uma internauta encaminhou email lembrando que “a retinosquise provoca perda de visão”. Qualquer degeneração ou distrofia retiniana pode levar à perda visual quando não tratada, com certeza. Para isso a orientação de mapeamentos de retina mais frequentes em pacientes portadores dessas lesões. Mas a observação dela deve ter sido em referência à forma juvenil,bem menos frequente, cuja observação e conduta terapeutica diferem totalmente da forma adquirida.

A retinoschisis juvenil é uma doença hereditária que pode levar à perda progressiva da visão central e periférica.
link: /http://retinabrasil.org.br/site/doencas/retinosquise-ligada-ao-x/ http://retinabrasil.org.br

Mas a retinosquise é anatomicamente definida pela separação anômala das camadas retinianas, podendo ser congênita (a forma referida pela internauta),adquirida ou secundária a situações como a miopia, trauma e vasculopatias
(link: http://www.scielo.br/pdf/rbof/v70n2/a12v70n2.pdf) .

Na maioria dos casos de doença adquirida ela,retinosquise, é silenciosa (só detectada em exame de oftalmoscopia indireta) e de evolução bastante lenta. A forma sintomática é estatisticamente baixa (menos de 2.5%). Nesse caso a retinosquise é tratada da mesma forma que as outras degenerações retinianas. O paciente sendo monitorizado sistematicamente (de acordo com a localização e aspecto da degeneração) para prevenção do DR (descolamento de retina).