Busca

Dúvidas em Oftalmologia

conversando com o oftalmologista…

Categoria

enxaqueca

Outro comentário sobre neve visual ou “visual snow”

“Li o artigo sobre visual snow… Estou com os sintomas há umas tres semanas; iniciaram após uma crise de cefaléia com aura e não sumiram, apesar de conseguir a priori ignorar os efeitos, quando preciso ler um livro ou usar o computador a tarefa fica bem árdua… Há algo que possa fazer para que consiga essa “habituação” de que o artigo trata? Ainda, há alguma medicação que possa ser eficaz?
Fui ao oftalmologista, fiz mapeamento de retina e segundo ele não há qualquer alteração no olho, salvo a miopia que tenho há muitos anos…
Quero ir ao médico, neuro ou algo assim, mas confesso que não sei nem por onde começar a procurar um que trate essa condição, até porque há pouquíssima literatura sobre o tema. Existe tem algum ‘exercício’ que eu mesma possa fazer para buscar essa “habituação visual”?
O visual snow apresenta algum risco ou complicação além da sensação visual distorcida?
Há algum fator que possa agravar a condição?”

Como você já leu, a fisiopatologia da “neve visual” (visual snow) ainda não foi estabelecida. Em termos leigos, porém, podemos afirmar que os portadores dessa “sensação visual” são indivíduos cujos cérebros apresentam hiper-reatividade do cortex cerebral.

A percepção visual normalmente é seletiva (envolve omissão de imagens menos importantes) e a alteração dessa seletividade da percepção parece estar implicada no processo de surgimento da neve visual. Como em várias disfunções bioquímicas do cérebro, esta pode ser mais uma delas. E não há nenhum “medicamento” especifico para esse sintoma. Digo isso por que as disfunções que costumam estar presentes em indivíduos portadores de neve visual (migranea, o TDAH, a TAG -ansiedade generalizada), apesar de serem tratadas com medicamentos (também, alem de outras intervenções), ainda não são “curáveis” e nem todos respondem a uma única droga.

Seria uma variação da percepção visual normal, assim como o poder de observação acurado, o estar ligado no seu entorno nos 360º “full time” e a hiper-reatividade emocional são variantes da personalidade. E quem não sabe que sofre mais o individuo tido como mais sensível? Creio que a ciência tem mostrado que todas as nossas características individuais são mediadas pelos genes e se manifestam através de alterações bioquímicas de cada individualidade. O que a epigenética tem dito é que somos capazes de não expressar esses genes em condições especiais que dependeriam do meio ambiente (externo e interno). Isso explicaria o porquê de apenas em determinados momentos da vida surgirem os sintomas das afecções que seguramente herdamos ( por que conhecemos outros familiares com as mesmas queixas). Não apenas isso, mas explica por que alguns de nós, mesmo tendo herdado determinadas características ou doenças não as expressamos (como se diz em genética médica).

Mas não devemos esquecer que é imprescindível que exames complementares sejam realizados para excluir causas orgânicas secundárias, como efeitos colaterais de alguns medicamentos, uso de drogas ilícitas, ou ainda neoplasia encefálica, doença desmielinizante e outras patologias neurológicas. Em outras palavras, um neurologista deve ser consultado!

Uma definição de habituação psicofisiológica é o desaparecimento da resposta à estimulação habitual.
Partindo desse princípio, a habituação seria um fenômeno fisiológico que poderia minimizar o desconforto do portador de neve visual através da exposição repetitiva aos estímulos sensoriais que se deseja “anular”. Podemos inferir então que essa disfuncionalidade do processamento visual, pelo menos em teoria pode responder à habituação, assim como o zumbido pode se tornar bem menos incomodo com esse tipo de proposta de reabilitação sensorial.

Mas, infelizmente, ainda desconheço qualquer proposta de grupos ligados à readaptação sensório motora, sejam fisioterapeutas, ortoptistas e/ou oftalmologistas direcionada à readaptação visual de pacientes portadores do sintoma ”visual snow”.

Não conheço nenhum risco maior ou complicação devida ao sintoma neve visual, exceto a necessidade de afastar qualquer possibilidade de patologia encefálica que possa ser responsabilizada pelo inicio dos sintomas (apesar de incomum).

Então, o que se pode (e deve) fazer é excluir causas orgânicas de “percepção visual incomum”. Um neurologista deve ser procurado para fazer esse “screening”. Você também pergunta se existe algum ‘exercício’ possa fazer para buscar essa “habituação visual”. Se a sensação de neve visual é intermitente,eu sugeriria que observasse que situações do dia a dia precipitam esse sintoma e tentar evitá-las ou contorná-las: você cita o incomodo à leitura (papel e tela do computador); então porque não tenta usar um óculos que altera a forma habitual de percepção visual,como por exemplo os óculos conhecidos como “casa de abelha” ou “ropidol”?

Quando eu estava muito incomodada com um floatter fixo em meu campo visual após uma rotura retiniana tratada, passei muitos dias (40-60) usando meus oculos de leitura “pintados”. Explico melhor: pintei as lentes dos óculos com uma trama reticulada que evitava a percepção da “mancha” isolada,uma vez que toda a superfície estava coberta de “manchas”! Consegui bastante alivio com esse recurso: consegui até voltar a me interessar pela leitura que havia deixado de lado nos dias seguintes ao episodio vítreo-retiniano.

Foi lento o processo, a “mancha” ainda está aqui,mas na maioria das vezes (quase sempre) eu não a percebo. Ela não me incomoda a não ser quando estou mais vulnerável: quanto mais estresse, mais adrenalina, mais intensa a reação de luta ou fuga do organismo, ou seja, mais atentos ao nosso redor estamos! E é ai que aparecem novamente os nossos “passageiros indesejáveis”, aquelas sensações desagradáveis que nos acompanham sempre, exatamente por termos uma habilidade maior de percepção do entorno, além da incapacidade de “deletar” as informações secundárias, aquelas que são menos importantes na avaliação do todo, seja esse todo uma tela de TV, um pedaço de papel ou a nossa própria vida!

E não se esqueça, a troca de informações (leigos e não leigos) é importante para trazer luz a determinados tópicos pouco conhecidos. Juntos podemos entender melhor o sintoma neve visual, possíveis mecanismos de “gatilho” , como e por que surgem essas percepções e,principalmente, como melhor lidar com elas e mitigar o sofrimento que efetivamente causam em seus portadores!

duvidasemoftalmologia@gmail.com

Dor ocular unilateral… o que pode ser?

Comentário de uma internauta:

“Estou muito preocupada com meu olho direto, pois esta é a quarta vez que me acontece a mesma coisa. Do nada sinto essa dor… Começa com irritação, o olho fica vermelho, meio fechado e dói muito quando foco alguma coisa. Por exemplo, não consigo olhar no celular, ou coisas pequenas; posso olhar sem sentir dor no geral, mas se focar algo, dá uma fisgada na vista. Dói atrás do olho ou quando olho para baixo ou para direita a dor vai aumentando. Inclusive não posso colocar a mão sobre a vista que dói muito.

Todas as vezes que me aconteceram esses episódios o olho afetado foi sempre o mesmo. Fico uma semana assim… Depois volta ao normal.

Já consultei dois oftalmologistas que me medicaram com colírio “Pred fort” e disseram para eu não me preocupar pois não é nada grave… dizem ainda que eu “imagino” a fisgada…. Isto está me preocupando muito… Gostaria de saber o que fazer, como resolver de vez este problema. Tenho medo de ter complicações maiores. Pesquisei na internet e o que li sobre neurite óptica se assemelha aos sintomas que sinto.

Por favor, aguardo retorno”.

 

 

Você refere dor ocular unilateral com olho vermelho (hiperemia) e “meio fechado” (diminuição da fenda palpebral). A dor piora com o uso da acomodação (foco para perto, em caracteres pequenos, como você referiu) e com a movimentação dos olhos.

Somente os sintomas não definem a etiologia (causa) da dor uma vez que falta informação sobre os achados oftalmológicos (sinais clínicos) para excluir algumas possibilidades e apontar uma ou mais hipóteses diagnosticas. Além disso, mais dados sobre a história da doença atual devem ser avaliados para ajudar a elucidar a provável causa.

Primeiramente devem ser afastadas as causas oftalmológicas (ceratite, uveite, esclerite (anterior e/ou posterior), hipertensão ocular transitória, trocleite (inflamação da tróclea, no canto interno da orbita,por onde passa um músculo chamado obliquo superior), espasmo de acomodação. Pelo caráter paroxístico e transitório e na ausência de outros sintomas, principalmente diminuição da acuidade visual  (e não apenas dor ao fixar a visão,como você refere) a neurite óptica não seria uma das hipóteses iniciais. Mas, novamente, faltam dados de exame clinico.

A oftalmodinia periódica não é tão incomum. Ainda não se conhece a causa, embora possa estar relacionada com diminuição (passageira) da oxigenação local(olho).

Existem causas não oftalmológicas para dor ocular unilateral intermitente. Um tipo de dor referida, isto é, que não tem origem no olho, mas o sintoma é ocular!

Um bom neurologista ou neuro-oftalmologista pode ser de ajuda também: hemicranias paroxísticas podem cursar com hiperemia ocular e alteração da pálpebra, além de outros sinais.

 

Em suma, você deve ser examinada em plena crise para que possa ser feito um exame direcionado e com isso facilitar a construção de um raciocínio clínico preciso na tentativa de elucidação diagnóstica.

 

Converse com seu oftalmologista!  Procure o medico assim que começar o próximo episódio de vermelhidão e dor ocular. Coloque suas dúvidas e apreensões. Tenho certeza que você ficará bem!

 

Abs,

 

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: