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Dúvidas em Oftalmologia

conversando com o oftalmologista…

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geral

Ceratoconjuntivite adenoviral refratária ao tratamento usual…

“Estou a passar pelo mesmo problema:
Há cerca de um ano e meio tive a fase aguda da doença, muito violenta que durou cerca de quatro semanas com febre, formação de membranas etc. Desde aí nunca mais voltei a poder estar muito tempo sem usar medicamentos. Sempre que inicio a retirada dos corticosteróides tenho uma nova recaída com dores e/ou visão alterada. O tratamento que resultou mais tempo foi de fato a ciclosporina, que me permitiu estar cerca de 10 dias sem recaídas após a retirada total do medicamento. Neste momento o meu médico está bastante indeciso sobre como proceder, diz que a continuação dos corticosteróides acarreta risco de glaucoma e/ou catarata e está indeciso sobre o caminho a seguir. Vejo que alguns estão com este problema há bastante tempo…Como resolveram a situação?

Obrigado!”

A minha sugestão é que trate seu problema como um todo e não apenas como um “problema dos olhos”.

Explico melhor:

O que faz cada um reagir de forma diferente? As susceptibilidades e individualidades podem fazer a diferença (pra melhor e pra pior). Nem todos que têm a conjuntivite adenoviral (epidêmica) evoluem desta forma assim como nem todos fazem membranas ou pseudomembranas. Na maioria das vezes o “terreno constitucional ou biológico”, ou seja, as condições orgânicas do indivíduo infectado anteriores ao processo infeccioso oftalmológico vão ditar a evolução do quadro.

O médico (imunologista) fará avaliação da sua imunidade (celular e humoral) através de testes e quem sabe poderá ser de ajuda na recuperação funcional da sua superfície ocular (binômio cornea-lagrima). Há que haver equilíbrio entre as células que informam o organismo que ele deve continuar “brigando” e as que sinalizam o “fim da batalha”.

O que se tem conhecimento para minimizar os sinais e sintomas visuais que surgem após a fase aguda da ceratoconjuntivite epidêmica você já conhece:
corticoides,ciclosporina,lubrificantes sem conservantes,alguns sugerem soro autólogo (colírio),vitamina C tópica…

Mas acho que podemos tentar fazer mais pelo paciente quando avaliamos o quadro global, quando pensamos no que pode estar impedindo aquele organismo de silenciar o processo inflamatório. Seria esse o caminho que eu seguiria… além, claro , de minimizar os sintomas mantendo temporariamente e pontualmente a medicação tópica menos agressiva possível (menos efeitos colaterais a médio e longo prazos).

Torcendo por você!

A catarata pode se tornar irreversível?

“Olá!
Minha mãe foi fazer o mapeamento de retina para posteriormente realizar a operação de catarata, mas o médico não conseguiu fazer o mapeamento devido ao avanço da doença e devolveu o dinheiro.

O que isso significa? A catarata se tornou irreversível?”

Não sei se entendi bem. Mas são duas as possibilidades.

Ou o retinólogo não conseguiu mapear a retina devido à densidade da catarata mas, ainda assim a alternativa seria uma ultrassonografia ocular que ajudaria a avaliar se a redução da acuidade visual no caso da sua mãe se deve (além da catarata) a uma alteração retiniana importante. Alguns achados retinianos podem fazer com que a cirurgia de catarata não tenha o sucesso esperado. E, nesse caso seriam discutidas as possibilidades, prós e contras do procedimento, com o paciente e seus familiares.

Ou a segunda possibilidade é ele não ter conseguido realizar o exame por conta de um descolamento de retina total ou hemorragia vítrea importante impedindo a visualização da retina. Você mencionou “o avanço da doença” mas talvez esse termo tenha sido usado por conta de possiveis alterações vítreo-retinianas presentes (em presença de doença diabética ou hipertensiva descompensadas, por exemplo) e não propriamente por causa da catarata.

Com o avanço tecnológico (equipamentos e técnicas cirúrgicas) de hoje em dia, a “cegueira” devido à catarata é totalmente reversível, caso o único problema seja a própria opacidade cristaliniana.

Na catarata mais densa, apesar da maior dificuldade e maior tempo cirúrgico, devidos à dureza maior do núcleo do cristalino e da necessidade de uma incisão de maior tamanho e talvez alguns “pontos”… o prognostico pós-operatório pode ser muito bom!.

Claro que o tempo encurtado de cirurgia (numa catarata menos densa) se traduz em menor reação inflamatória no pós-operatório imediato (e tardio). Mas os anti-inflamatórios hormonais (corticoides) são utilizados em todas as cirurgias com a finalidade de minimizar a resposta do organismo à “agressão” cirúrgica. O tempo que levará para a retirada desse medicamento é que pode ser diferente, caso a caso, e vai depender do grau de dificuldade intra-operatória (maior nas cataratas mais densas, por exemplo).

A recuperação funcional de um paciente com deficiência visual importante após ser submetido à facectomia (cirurgia de catarata) é uma das vivências mais gratificantes para um oftalmologista! Converse com o médico da sua mãe, fale de sua apreensão e tenho certeza de que se entenderão.

Mais do que isso, você estará mais confiante e poderá ajudá-la a ter uma qualidade de vida bem melhor nos próximos anos!

Abs,

Visão embaçada e exame oftalmológico “normal”. O que fazer?

“Há um mês eu tive uma perda de visão repentina; meu olho ficou meio que descontrolado, não conseguia focar a visão. Ela voltou ao normal, porém desde então tem ficado embaçada e ruim. Eu fui ao oftalmologista e ele disse que está tudo certo.

Mas estou preocupado!

Já uso óculos e o mesmo está em dia!”

Comentário:

Se o oftalmologista não encontrou evidencia de qualquer alteração ocular (ao exame), sugiro que durante um intervalo de tempo avalie sua sintomatologia (dados novos, mais precisão na queixa visual,relação da dificuldade visual com a hora do dia e/ou atividade executada, p.ex.) e retorne à consulta.

Muitas vezes a queixa imprecisa (dado subjetivo) não indica ao medico a possível origem do problema. Não significa que ele não exista, apenas ainda não se tornou visível ao exame. Por exemplo, uma opacidade cristaliniana muito incipiente que gera alteração no contraste e com isso o paciente se queixa de que não está vendo como antes… tem algo errado…mas o medico não visualiza a alteração antes dela se tornar um pouco mais densa. Ainda assim ela pode não alterar a quantidade de visão (acuidade visual que se mede no consultório), mas é responsável pela queixa de piora na qualidade visual.

Porem, como você disse que “perdeu a visão de repente”, isso pode significar alteração súbita na acomodação (uso de algum fármaco ou apenas estresse importante e pontual), enxaqueca ou migranea retiniana, alteração nervo óptico (quando ela é posterior em sua localização ,o médico não vê nenhuma alteração no fundo do olho) ou mesmo uma isquemia transitória (AIT).

Como você diz que a visão “voltou ao normal” mas “tem ficado embaçada”, talvez a alteração acomodativa deva ser melhor investigada (se você está fazendo vestibular, mestrado ,doutorado ou estudando para algum concurso, essa disfunção acomodativa não é incomum).

Como você viu, são várias as possibilidades e o tempo e a mudança na característica dos sintomas pode ser vital para um diagnóstico preciso. Mas o lado bom é que não deve ser nada que exija intervenção precoce,uma vez que o exame oftalmológico não se mostrou alterado na primeira visita após o ocorrido. As mudanças orgânicas são dinâmicas; o médico precisa de vários momentos diferentes da doença para ser mais assertivo. A Medicina depende de sintomas e sinais para que os diagnósticos sejam feitos.

Imagine uma criança com febre 38ºC há menos de 24 horas e mal estar geral. A doença pode ser uma meningite, sarampo ou qualquer outra virose comum da infância. Uma historia de possível contágio, outros membros da família doentes pode ajudar. Mas somente o acompanhamento da criança pode levar ao diagnostico de certeza! Os novos sintomas que surgirão darão a “pista” e o que se pode fazer no momento é aguardar esses sintomas, observar de perto a criança e controlar a febre. O tratamento precoce “às cegas” muitas vezes modifica negativamente o desfecho da doença.

É fato também que às vezes o medico não tem esse tempo! Se o paciente está muito mal, descompensado corre perigo de vida, é obvio que será medicado (por suposição ou definição de causa mais provável) e depois, mais à frente, as correções diagnosticas e terapêuticas serão feitas.

Entendeu?

Minha sugestão é que volte ao oftalmologista com as queixas atuais e converse com ele sobre a sua preocupação. Ninguem melhor do que ele para rever o seu quadro e avaliar as possibilidades diagnosticas.Ele fez o primeiro exame e saberá encontrar modificações do aspecto inicial em relação ao quadro clínico atual.Além disso o reexame dará a você mais confiança, alem de permitir uma decisão terapêutica acertada caso se verifique alguma modificação dos achados oftalmológicos anteriores.

Toda (e qualquer) queixa deve ser investigada,sempre!

Melhor pecar pelo excesso do que pela falta, não é o que diz o ditado?

Abs,

duvidasemoftalmologia@gmail.com

Outro comentário sobre neve visual ou “visual snow”

“Li o artigo sobre visual snow… Estou com os sintomas há umas tres semanas; iniciaram após uma crise de cefaléia com aura e não sumiram, apesar de conseguir a priori ignorar os efeitos, quando preciso ler um livro ou usar o computador a tarefa fica bem árdua… Há algo que possa fazer para que consiga essa “habituação” de que o artigo trata? Ainda, há alguma medicação que possa ser eficaz?
Fui ao oftalmologista, fiz mapeamento de retina e segundo ele não há qualquer alteração no olho, salvo a miopia que tenho há muitos anos…
Quero ir ao médico, neuro ou algo assim, mas confesso que não sei nem por onde começar a procurar um que trate essa condição, até porque há pouquíssima literatura sobre o tema. Existe tem algum ‘exercício’ que eu mesma possa fazer para buscar essa “habituação visual”?
O visual snow apresenta algum risco ou complicação além da sensação visual distorcida?
Há algum fator que possa agravar a condição?”

Como você já leu, a fisiopatologia da “neve visual” (visual snow) ainda não foi estabelecida. Em termos leigos, porém, podemos afirmar que os portadores dessa “sensação visual” são indivíduos cujos cérebros apresentam hiper-reatividade do cortex cerebral.

A percepção visual normalmente é seletiva (envolve omissão de imagens menos importantes) e a alteração dessa seletividade da percepção parece estar implicada no processo de surgimento da neve visual. Como em várias disfunções bioquímicas do cérebro, esta pode ser mais uma delas. E não há nenhum “medicamento” especifico para esse sintoma. Digo isso por que as disfunções que costumam estar presentes em indivíduos portadores de neve visual (migranea, o TDAH, a TAG -ansiedade generalizada), apesar de serem tratadas com medicamentos (também, alem de outras intervenções), ainda não são “curáveis” e nem todos respondem a uma única droga.

Seria uma variação da percepção visual normal, assim como o poder de observação acurado, o estar ligado no seu entorno nos 360º “full time” e a hiper-reatividade emocional são variantes da personalidade. E quem não sabe que sofre mais o individuo tido como mais sensível? Creio que a ciência tem mostrado que todas as nossas características individuais são mediadas pelos genes e se manifestam através de alterações bioquímicas de cada individualidade. O que a epigenética tem dito é que somos capazes de não expressar esses genes em condições especiais que dependeriam do meio ambiente (externo e interno). Isso explicaria o porquê de apenas em determinados momentos da vida surgirem os sintomas das afecções que seguramente herdamos ( por que conhecemos outros familiares com as mesmas queixas). Não apenas isso, mas explica por que alguns de nós, mesmo tendo herdado determinadas características ou doenças não as expressamos (como se diz em genética médica).

Mas não devemos esquecer que é imprescindível que exames complementares sejam realizados para excluir causas orgânicas secundárias, como efeitos colaterais de alguns medicamentos, uso de drogas ilícitas, ou ainda neoplasia encefálica, doença desmielinizante e outras patologias neurológicas. Em outras palavras, um neurologista deve ser consultado!

Uma definição de habituação psicofisiológica é o desaparecimento da resposta à estimulação habitual.
Partindo desse princípio, a habituação seria um fenômeno fisiológico que poderia minimizar o desconforto do portador de neve visual através da exposição repetitiva aos estímulos sensoriais que se deseja “anular”. Podemos inferir então que essa disfuncionalidade do processamento visual, pelo menos em teoria pode responder à habituação, assim como o zumbido pode se tornar bem menos incomodo com esse tipo de proposta de reabilitação sensorial.

Mas, infelizmente, ainda desconheço qualquer proposta de grupos ligados à readaptação sensório motora, sejam fisioterapeutas, ortoptistas e/ou oftalmologistas direcionada à readaptação visual de pacientes portadores do sintoma ”visual snow”.

Não conheço nenhum risco maior ou complicação devida ao sintoma neve visual, exceto a necessidade de afastar qualquer possibilidade de patologia encefálica que possa ser responsabilizada pelo inicio dos sintomas (apesar de incomum).

Então, o que se pode (e deve) fazer é excluir causas orgânicas de “percepção visual incomum”. Um neurologista deve ser procurado para fazer esse “screening”. Você também pergunta se existe algum ‘exercício’ possa fazer para buscar essa “habituação visual”. Se a sensação de neve visual é intermitente,eu sugeriria que observasse que situações do dia a dia precipitam esse sintoma e tentar evitá-las ou contorná-las: você cita o incomodo à leitura (papel e tela do computador); então porque não tenta usar um óculos que altera a forma habitual de percepção visual,como por exemplo os óculos conhecidos como “casa de abelha” ou “ropidol”?

Quando eu estava muito incomodada com um floatter fixo em meu campo visual após uma rotura retiniana tratada, passei muitos dias (40-60) usando meus oculos de leitura “pintados”. Explico melhor: pintei as lentes dos óculos com uma trama reticulada que evitava a percepção da “mancha” isolada,uma vez que toda a superfície estava coberta de “manchas”! Consegui bastante alivio com esse recurso: consegui até voltar a me interessar pela leitura que havia deixado de lado nos dias seguintes ao episodio vítreo-retiniano.

Foi lento o processo, a “mancha” ainda está aqui,mas na maioria das vezes (quase sempre) eu não a percebo. Ela não me incomoda a não ser quando estou mais vulnerável: quanto mais estresse, mais adrenalina, mais intensa a reação de luta ou fuga do organismo, ou seja, mais atentos ao nosso redor estamos! E é ai que aparecem novamente os nossos “passageiros indesejáveis”, aquelas sensações desagradáveis que nos acompanham sempre, exatamente por termos uma habilidade maior de percepção do entorno, além da incapacidade de “deletar” as informações secundárias, aquelas que são menos importantes na avaliação do todo, seja esse todo uma tela de TV, um pedaço de papel ou a nossa própria vida!

E não se esqueça, a troca de informações (leigos e não leigos) é importante para trazer luz a determinados tópicos pouco conhecidos. Juntos podemos entender melhor o sintoma neve visual, possíveis mecanismos de “gatilho” , como e por que surgem essas percepções e,principalmente, como melhor lidar com elas e mitigar o sofrimento que efetivamente causam em seus portadores!

duvidasemoftalmologia@gmail.com

Após tratamento da retina com o laser comecei a ver “flashes”…pode acontecer isso?

“Olá, tudo bem?
Fiz a poucos dias um tratamento a laser para prevenção de rotura retiniana. O medico falou que eu estava com uma área frágil e por isso precisou “selar” com laser, mas logo no terceiro dia (após o procedimento) comecei a sentir flashes no olho! Com piscadas muito rápidas -parece uma lâmpada fluorescente quando está para queimar. Voltei ao meu médico e ele falou que o laser demora em torno de 15 dias para cicatrizar 100% e neste período era normal eu sentir estes flashes. Ele tornou a examinar o meu olho (microscópio) e falou que estava tudo bem com a minha retina. Antes do laser eu não via estes flashes repetitivos, agora é o dia todos esses flashes! A minha visão é normal ( 100%)em ambos os olhos”.

Entendo que você esteja desconfortável e inseguro em relação aos “novos” sintomas. Relacionar (negativamente) sintomas novos a procedimentos oftalmológicos (ou qualquer outra forma de intervenção médica) é normal! E não está inteiramente errado!

Muitas vezes, ou melhor, quase sempre o médico se depara com situações em que ele sabe que se não intervir, a possibilidade de desfecho negativo é grande. Mas sabe também que a sua intervenção na evolução natural da doença pode levar a situações pouco confortáveis. Como o surgimento de novos (e diferentes) sintomas ou mesmo ao questionamento por parte do paciente a respeito do procedimento realizado. Era mesmo necessário? O que faço agora para minimizar esse novo desconforto? Não teria sido melhor ter deixado o processo evoluir, monitorizando de perto essa evolução e intervindo apenas quando fosse inevitável, como por exemplo evidencia de rotura e/ou aumento do tamanho dela ou ainda evolução para descolamento?

Para aumentar nossa assertividade, nós médicos não decidimos sozinhos o que fazer. Nós nos baseamos,de maneira geral,em algumas normas ditadaqs pelos conselhos das especialidades. Embora cada caso deva ser analisado pontualmente pelo medico (e as decisões tomadas em conjunto com o paciente que deve ser bem esclarecido a respeito da intervenção, seus benefícios e possiveis intercorrencias), nos baseamos nos “guidelines” (normas) existentes em relação às mais diversas patologias mais comuns em nosso meio. Quando são doenças mais raras, nos reportamos aos artigos publicados por outros médicos que já tiveram oportunidade de lidar com esta ou aquela outra doença incomum. A experiência deles nos ajuda a definir a melhor proposta para nosso paciente.

Essas normas às quais me referi anteriormente (guidelines) são ditadas por vários estudos realizados em diferentes centros (hospitais) , estudos esses com o mesmo “desenho”,ou seja,mesmo tipo de avaliação e objetivo, para que possam ser comparados.As conclusões desses estudos são analisadas e a conclusão é resumida através de itens a serem observados em cada paciente e melhor conduta frente a cada caso semelhante aos que foram alvo do estudo.Esse consenso é formulado por especialistas nessas patologias.

Então, em resposta à sua dúvida,os consensos em relação à patologias retinianas exibem propostas de intervenção diferentes, dependendo da estratificação de risco da degeneração / lesão retiniana observada.

Algumas degenerações exigem (segundos esses estudos) intervenção imediata, uma vez que estão relacionadas a um maior risco de descolamento de retina do que outras. Nesses casos, mesmo na ausência de visualização de rotura é mandatória a laserterapia com a intenção de impedir o desfecho negativo mais temido que seria o descolamento de retina. Enquanto que a aplicação de laser é procedimento de alguns minutos, a cirurgia do DR é muito mais demorada e interfere muito mais com a higidez do olho do que o laser. Em outras palavras, as complicações possíveis relacionadas à cirurgia são muito mais graves do que as observáveis com o procedimento preventivo (laser).Mas reconheço que a decisão é difícil e quando surgem sintomas novos após o procedimento o questionamento possa existir!

Em relação aos seus sintomas:

O laser é o estimulo que vai fazer com que o organismo responda com atividade inflamatória, que no final das contas leva à atividade cicatricial, “selando” aquela área! Essa resposta do olho à “agressão” (laser) é necessária à aceleração do processo de bloqueio da lesão,embora possa às vezes levar a modificações estruturais do corpo vítreo e alterar sua relação com a retina adjacente (e/ou subjacente). Essa modificação da interface vítreo-retiniana pode durante algum tempo ser responsável por “flashes” que acontecem toda vez que há movimento ocular, por conta de possível “tração” da retina naquele ponto. Seria, tipo um “beliscão”, que ao estimular a retina se traduz na visão de luz ou flashes de luz ou ainda raios luminosos.

A (des)organização do vítreo sofre alterações contínuas…isso significa dizer que deverá desaparecer essa sensação desagradável (e que assusta a gente,não é mesmo?). Mas o processo deve ser monitorizado. Por este motivo o retinólogo solicita o mapeamento de retina de controle (em media até 30 dias após o procedimento a laser).A avaliação da retina pode ser feita tanto com o oftalmoscópio indireto quanto através de uma lente especial usada em conjunto com o biomicroscópio.

Espero ter ajudado a esclarecer suas dúvidas!

duvidasemoftalmologia@gmail.com

A cirurgia da miopia pode piorar o estrabismo?

A cirurgia refrativa está contra-indicada em caso de estrabismo pré-existente?

“Estou querendo fazer uma cirurgia para correção da visão (cirurgia refrativa).
Fui ao oftalmologista do SUS onde realizei alguns exames; a oftalmologista me deu a resposta na mesma hora dizendo que havia um desvio no meu olho esquerdo e que se fizesse a cirurgia o desvio poderia aumentar, portanto não seria aconselhável operar.
Quis uma segunda opinião, fui ao oftalmologista do meu plano de saude, realizei todos os exames e fui orientada a realizar a cirurgia. O médico não me alertou sobre o risco que a outra oftalmologista sugeriu. Nem mesmo após eu ter questionado a respeito. Tem sido sempre evasivo.
Minha dúvida é a seguinte, existe o risco de este desvio aumentar após a cirurgia? Mesmo em se tratando de um desvio pequeno (para fora) no olho esquerdo?”

O estrabismo divergente latente ( exoforia, quando só se detecta ao exame oftalmológico) ou manifesto (aquele que o leigo percebe) fica esteticamente mais compensado com o uso dos óculos,quando o individuo é míope. Isso se dá por conta de um “efeito prismático” das lentes corretoras negativas (usadas pelos míopes) que funciona a favor nesses casos e diminui o “angulo” do estrabismo.

Em outras palavras, os óculos do míope que tem estrabismo divergente “ajudam a diminuir”o desvio dos olhos.Tanto que quando esse mesmo individuo usa lentes de contato o desvio fica mais evidente (por que as lentes negativas dos óculos -que ficam a uma distancia de 12mm dos olhos- “criam” esse efeito prismatico e as lentes de contato não, pois a distancia entre a correção (lente negativa) e a cornea é praticamente zero!

A disfunção motora (estrabismo latente ou manifesto) não é contra-indicação formal (absoluta) em relação à cirurgia refrativa. Mas,mesmo se tratando de contra-indicação relativa, você deve ser avaliada criteriosamente e orientada em relação a todos os prós e contras relacionados ao procedimento cirúrgico em seu caso.

Antes de optar pela cirurgia seria interessante você fazer uma avaliação ortóptica para mensurar o desvio e avaliar a qualidade da sua visão binocular e, se você e seu médico se decidirem pela cirurgia, o reforço da musculatura, a melhora da cooperação binocular são ajustes desejáveis para dar suporte ao maior trabalho que seus músculos terão quando não for mais necessário uso de lentes negativas para corrigir a visão.

Faça isso antes da cirurgia para tentar evitar surpresas desagradáveis no pós operatório imediato e/ou tardio.Consulte mais de um oftalmologista (cirurgião refrativo) se necessário. Cada profissional tem uma experiência diferente de uma mesma situação e cada caso é um caso.

E tenha a certeza de ter todas as suas dúvidas dirimidas antes de se decidir pela correção cirúrgica. Uma relação médico-paciente bem construída é o primeiro passo para o sucesso terapêutico!

Prescrição para óculos e lentes de contato: diferentes?

“Tenho miopia e comecei a usar óculos com 12 anos de idade (-0,5 dioptrias em cada olho), e por volta dos 16 anos (-3,75 em cada olho) mudei para lentes de contato. Atualmente tenho 21 anos e -5,25 dioptrias em cada olho. No entanto, recentemente deparei-me com um grande problema: as minhas lentes de contato foram descontinuadas e apesar de ter ido à consulta e o oftalmologista me ter dado várias marcas de lentes para experimentar não me adaptei a nenhuma.Daí que penso em voltar a usar óculos. O problema é que na minha última consulta (à cerca de duas semanas) não pedi a receita para os óculos, não sabendo agora quais os parâmetros a indicar numa ótica. Tenho uma receita de 2010, quando ainda só tinha -4,5 dioptrias em lentes de contato, e na époce foi prescrita receita para óculos com os seguintes parâmetros:
Olho direito:
Esferico (dioptrias): -4,75
Cilindro (dioptrias) -0,25
Eixo: 180º

Olho esquerdo:
Esferico (dioptrias): -4,75
Cilindro (dioptrias) -0,25
Eixo: 10º

A minha questão é: tendo eu atualmente -5,25 dioptrias receitadas para lentes de contato, os parâmetros para óculos serão os mesmos que os anteriores, apenas alterando o valor “esférico” para -5,5 dioptrias?”

A diferença de -0.75 dioptrias entre a prescrição para LC anterior (2012) e a nova (2012) não autoriza aplicar a mesma diferença em relação à receita para óculos anterior (2010). A prescrição de óculos antiga faz referencia a componente cilíndrico que não sabemos se foi alterado nesta nova avaliação oftalmológica.
A cópia da receita (fax,email,sms) é sempre possível, sem necessidade de nova avaliação, uma vez que o exame foi realizado há 1 mês apenas e você não refere nenhum fator de possível flutuação da refração, como o diabetes mellitus p.ex.

Por outro lado, se você foi a uma consulta de rotina e não levou nenhuma queixa (dor de cabeça, dificuldade visual) provavelmente a diferença refracional não é fonte de sintoma e o astigmatismo não deve ser importante.

De qualquer forma sugiro que obtenha copia da receita para sua própria segurança em relação ao custo das novas lentes dos óculos. Além disso verifique o nome das lentes de contato que estavam em uso (e você diz que foram descontinuadas) e avalie com seu oftalmologista a possibilidade de tentar encontrar lentes de outro fabricante similares às que você usava. Fatores a considerar: polímero das lentes (tipo de material), diâmetro e curva base das lentes, além do grau de hidratação e DK (quanto maior este coeficiente, mais elevada é a permeabilidade da lente ao oxigênio e maior a qualidade da adaptação).

Prevenção em Oftalmologia…como se faz?

Uma internauta perguntou:
“Tenho um trabalho sobre medicina preventiva ocular. O que eu posso falar sobre esse assunto?”

É um prazer poder ajudá-la!

Prevenção em oftalmologia?

Falar sobre prevenção em oftalmologia é, em primeiro lugar, falar da garantia de boa qualidade visual futura, através da avaliação precoce da visão na infância, visando à prevenção da ambliopia (que é o não desenvolvimento -evitável- da acuidade visual potencial num dos olhos em decorrência de estrabismo ou outra patologia oftalmológica que não tenha sido diagnosticada antes dos seis anos de idade.

Falar da prevenção dos traumas oculares, causa importante e bem conhecida de cegueira evitável no mundo! Acidentes de trabalho, acidentes de transito e acidentes domésticos.

Falar de como a hipertensão arterial, a obesidade, a síndrome metabólica (através do aumento da resistência à insulina) e o diabetes podem interferir negativamente na qualidade visual em longo prazo.

Enfim,

Falar da prevenção das doenças crônicas degenerativas oculares como o glaucoma, algumas uveítes e a DMRI (degeneração macular relacionada à idade), que podem ter início antes da idade adulta e apresentar desfechos negativos mais precoces ou na senilidade, reduzindo a qualidade de vida dos indivíduos.

Estratégias: exames oftalmológicos de rotina, orientação a respeito de normas de segurança no trabalho e cuidados para prevenção de acidentes domésticos. Mas, principalmente em relação às doenças crônicas degenerativas, é imprescindível a conscientização da necessidade de manter estilo de vida mais saudável.

E essa conscientização deve ser feita através da construção, desde cedo, do conhecimento a respeito das doenças oculares e sua prevenção!

Alguns links:

http://www.careplus.com.br/edicao/edicao_12/prevencao.htm

http://elizabethnavarrete.com/2012/08/19/olho-e-sindrome-metabolica-prevenindo-a-deficiencia-visual-futura/
http://elizabethnavarrete.com/2010/02/25/cegueira-a-dmri-como-principal-causanos-paises-desenvolvidos/

http://elizabethnavarrete.com/2010/08/11/oftalmologiasenilidade-e-qualidade-de-vida-futura/

http://elizabethnavarrete.com/2011/08/16/voce-sabe-o-que-e-ambliopia-e-a-importancia-do-diagnostico-precoce/

http://elizabethnavarrete.com/2011/09/28/a-visao-na-catarata-na-dmri-e-no-glaucoma/

http://elizabethnavarrete.com/2011/05/10/prevencao-no-glaucoma-e-possivel/

http://elizabethnavarrete.com/2011/05/03/olho-doenca-vascular-e-inflamacao-cronica/

“Neve visual”…a habituação seria possível?

A fisiopatologia da “neve visual” ainda não foi estabelecida. Mas, em termos leigos, por ora, poderíamos dizer que os portadores dessa “sensação visual” são indivíduos cujos cérebros apresentam hiper-reatividade cortical.

O processamento visual se dá no encéfalo. Os olhos recebem a informação fotoquímica e o nervo óptico faz a conexão com os centros visuais no cérebro.Então sabemos que percepção visual é um processo de estágios múltiplos.

A percepção visual normalmente é seletiva e envolve omissão: imagens menos importantes ou que causam confusão são “ignoradas” pela “mente que vê”, ou seja, a região em que é processada a informação visual.
A seletividade da percepção depende de processos cognitivos cerebrais e estaria alterada, por exemplo, em disfunções bioquímicas do cérebro. Um exemplo seria a epilepsia foto-sensitiva, em que existe uma sensibilidade exagerada ao “flickering”, que nesse caso desencadeia uma resposta anormal à estimulação luminosa intermitente e/ou certos “padrões visuais”

O sistema nervoso autônomo controla a função autonômica (vegetativa).

A dopamina, assim como a adrenalina, é um dos transmissores que ajudam a fazer a “sintonia fina” dos níveis de atividade neural. Portanto, o TDAH ou DDA (déficit de atenção com hiperatividade), assim como a depressão, síndrome do pânico, e TAG ou transtorno da ansiedade generalizada, não são raros em indivíduos que se queixam de “neve visual”.Sabemos também que,“do ponto de vista fisiológico, no transtorno de ansiedade generalizada ocorre a ativação do sistema nervoso autônomo.Os pacientes ansiosos tendem a ter um tônus simpático aumentado, respondendo emocionalmente de forma excessiva aos estímulos ambientais e demorando mais a adaptar-se às alterações do Sistema Nervoso Autônomo em http://www.psiqweb.med.br/

Outras comorbidades possíveis (esperadas) no caso da conexão simpática (Sistema Nervoso Autonomo) ser uma das vias fisiopatológicas da “neve visual”:

A síncope vasovagal (p.ex. no indivíduo que passa mal quando vê sangue, quando se submete a punção venosa, quando vê um ferimento grande). A hiper-hidrose, distúrbios do sono (incluindo a narcolepsia), AIT (acidente isquêmico transitório), hipotensão ortostática,taquicardia de repouso,esofagite de refluxo, bexiga neurogênica, dores no peito (por estresse) e espasmos musculares ou tiques.
Ou ainda: aura migranosa persistente (PMA), desordem de percepção halucinogenica persistente (HPPD), despersonalização / desrealização, anisedade (TGA), depressão, síndrome do pânico e palinopsia ( que é a persistência anormal das pós-imagens positivas).

A neve visual parece ser mais comum em pessoas que são extremamente observadoras e hiper-reativas. Nelas também é mais frequente a percepção de fenômenos entópticos. Poderia ser avaliada então como uma variação da percepção visual normal. Mas é imprescindível que exames complementares sejam realizados para excluir causas orgânicas secundárias, como efeitos colaterais de alguns medicamentos, uso de drogas ilícitas, ou ainda neoplasia encefálica, doença desmielinizante e outras patologias neurológicas.

Descartada a causa orgânica, que uma vez tratada faria cessar a “alucinação”, uma possibilidade de lidar com o sintoma visual seria a habituação.

A habituação é um fenômeno fisiológico e a utilização dessa técnica foi sugerida e tem sido utilizada em indivíduos portadores de zumbido, como forma de minimizar o seu desconforto.

Habituação é o aprendizado de novos padrões de informação. Ela se daria a partir da redução de respostas sensoriais e se basearia na repetição de estímulos sensoriais. Essa repetição, além de promover a adaptação ao padrão individual adquirido estimularia o órgão sensorial, criando novos automatismos.
A estimulação constante do ouvido (utilizando uma frequência semelhante à do zumbido e em altura suficiente para suplantá-lo) leva após um determinado período à ausência de percepção do zumbido. Nesse caso teria sido criado um novo padrão de percepção auditiva que “filtraria” o ruído adventício (zumbido) mantendo-o num plano secundário, acessível apenas em momentos mais críticos em que esse mecanismo de bloqueio fosse inativado.

A percepção espacial de movimento depende da integração dos centros oculares e proprioceptivos (corticais superiores). A memória visual está localizada no córtex visual secundário que abriga as conexões superiores relacionadas à visão. Essas conexões poderiam ser ativadas e desativadas, conforme o estímulo. Da mesma forma que o individuo percebe estímulos visuais excessivos, não necessários ao processamento da informação visual recebida cada momento (como no caso dos fenômenos entópticos), ele pode aprender a “não vê-los”. A não tomar consciência deles.

Assim como existe a readaptação vestibular na vertigem, pode-se buscar a readaptação processual visual em relação às sensações visuais incomuns (p. ex. “visual snow”). A idéia seria, através de estímulos visuais repetitivos, provocar a habituação (das vias responsáveis pela percepção visual) aos fenômenos entópticos e sensações visuais incomuns.

Essa sugestão parece interessante e deveria ser investigada por especialistas em reabilitação. Existem técnicas (hoje cada vez mais difundidas) utilizadas no tratamento da dislexia visual (síndrome de Irlen), que é uma disfuncionalidade do processamento visual. Assim como parece ser a síndrome da “neve visual”.

E assim como hoje se reconhece a possibilidade de modificar o processamento visual na criança disléxica, será que a técnica de habituação não poderia levar à readaptação visual nos indivíduos portadores de “visual snow”?

Referencias:

Livro: “Visual Perception: a clinical orientation” 2010, Schwartz S.,McGraw-Hill Publishing Co

Links:

http://uk.answers.yahoo.com/question/index?qid=20120515144530AALtrai
http://porillion.wordpress.com/pma-visual-snow-faqs/
http://www.aber.ac.uk/media/Modules/MC10220/visindex.html

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